Anunciada como a palavra do
ano de 2016 pela Oxford Dictionaries, A pós-verdade, Fake News o Fenômeno da Inverdade , ganhou atenção mundial. O fenômeno está
ligado a episódios recentes como a saída do Reino Unido da União
Europeia e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Como
confiar naquilo que se lê na Internet? Para onde vai o jornalismo
quando opiniões e fatos se misturam na disputa pela atenção de uma audiência
cada vez mais dispersa? Devem as redes sociais buscar inibir a divulgação de
notícias falsas? Uma notícia falsa pode ser protegida pela liberdade de
expressão?
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É da natureza humana recusar fatos que contrariam
nossa visão de mundo. A desconfiança geral em relação às instituições piora
nossa capacidade de distinguir mentiras de verdades
O
mundo da pós-verdade e do fake news, seus interesses e confusões
A
publicização constante dos resultados de pesquisas de consumo de mídia no
Brasil e no mundo tem oferecido elementos determinantes para uma completa
elaboração de briefings, por parte das agências de publicidade, quando
precisam criar campanhas para veículos de comunicação.
Essa
preocupação generalizada com notícias falsas de acordo com outro levantamento
do Instituto Reuters para Estudo do Jornalismo na Universidade de Oxford,
apontou que 70% dos executivos de comunicação de 24 países, incluindo o Brasil,
acreditam que o fenômeno fake news servirá para fortalecer o jornalismo
em 2017.
A verdade nunca foi tão importante como agora
As respostas dos jornais e portais de credibilidade, geralmente versões digitais dos impressos, contra a proliferação de inverdades, ganham força em todo o mundo ao transformarem suas publicidades em antídotos diante daquilo que o sociólogo francês Dominique Wolton (2006) chamou de efeito colateral da dimensão funcional da comunicação. Em sua obra “É preciso salvar a comunicação”, o autor criticou a comunicação generalizada que banalizou o valor social da informação, criando uma desconfiança na transmissão mecânica do news. O sociólogo alerta sobre a necessidade de busca de uma densidade por traz da força dos fatos, para que aconteça uma cura daquilo que chamou de ressaca da incomunicação.
Expressões
como: “Verdade. Nunca foi tão importante como agora” e “Verdade. É
vital para a democracia”, assinadas em campanhas publicitárias recentes
pelo Jornal norte-americano The New York Times potencializam a essência
da prática jornalística que Dominique Wolton chamou de dimensão normativa da
comunicação, pautada nos valores éticos, culturais e ideológicos do jornalismo
Seguindo o
mesmo raciocínio, o diretor do Centro Knigth para o Jornalismo nas
Américas da Universidade do Texas, Rosental Calmon Alves, em entrevista ao
Portal O.
Globo, em 17 de Dezembro de 2016, afirmou que essas ações
pedagógicas, pautadas na alfabetização da mídia estão acontecendo de forma
tardia:
Passamos por
uma crise, mas acredito que aos poucos as pessoas vão desenvolver um
desconfiômetro para saber que não se pode acreditar em qualquer coisa — diz
Rosental. — O privilégio que os meios de comunicação tinham deixou de existir.
E o jornalismo foi muito lento ao reagir a essas notícias falsas. Minha geração
não desmentia boato porque achava que assim não valorizaria quem espalhava
essas coisas. Mas, neste ambiente digital, é obrigação do jornalismo checar
mais rapidamente os fatos. Uma notícia falsa na rede é como fogo no mato,
espalha-se muito rapidamente. O jornalismo precisa enxergar isso como
oportunidade.
O Fenômeno onde o sujeito consome aquilo que converge com sua própria concepção de mundo.
Um comunicado da ONU, assinado
pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pela Organização para Cooperação
e Segurança na Europa e pela Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos
Povos, afirmou que as notícias falsas, a desinformação e a propaganda representam
uma preocupação global, mas, os esforços para combatê-los podem levar à
censura, e que as notícias falsas são divulgadas por governos, empresas e
indivíduos, e o objetivo é, entre outros, enganar a população e interferir no
direito público do conhecimento sobre os assuntos. (Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-03/onu-diz-que-noticias-falsas-representam-uma-preocupacao-global>.
Acesso em: 30 de Abril de 2017).
As pressões
internacionais contra o Facebook e a Google se intensificaram
conforme acompanhou o portal DinheiroVivo.com. Em Dezembro de 2016, o
portal publicou matéria em que o presidente da Comissão da União Europeia,
Jean-Claude Juncker, advertiu para o combate às notícias falsas, e que a União
Europeia vai
acompanhar as medidas
anunciadas pelas empresas, para travar a propagação dessas notícias. “Liberdade também
significa responsabilidade”, afirmou
o presidente.
Em 30 Janeiro de 2017, o portal
publicou outra notícia da Agência Associated Press informando que uma
Comissão do Parlamento britânico abriu inquérito para investigar o fenômeno de
propagação de notícias falsas. Já fazendo um apelo às grandes empresas
tecnológicas para prevenirem a disseminação de notícias falsas. O presidente da
comissão, Damian Collins, afirmou que a tendência constitui “uma ameaça para a
democracia que corroi a confiança pública nos media”.
Com mais um alerta da União
Europeia, ao afirmar que nações com eleições em 2017 são alvo preferenciais de
informações não verdadeiras, países como a França e a Alemanha prepararam
ofensivas contra as notícias falsas para que não influenciem no rumo das
campanhas eleitorais. No início de Abril de 2017, o governo alemão aprovou
multas de até 50 milhões para notícias falsas online, a lei, destinada a
penalizar comentários de ódio e falsas notícias só precisa ser aprovada no
congresso alemão para entrar em vigor. Segundo o Ministro da Justiça da
Alemanha, Heiko Maas, para ser eficaz, a mesma medida precisa ser tomada em
nível europeu.
Acusado de omissão, o fundador
do Facebook, Mark Zuckerberg, responde às pressões internacionais com
declarações de intervenções em algorítmos, bloqueio de anúncios e medidas para
ajudar na identificação e eliminação de notícias falsas. Na França, entre outras
medidas, a empresa está incentivando sites de checagem.
Com o apoio de trinta e sete
veículos de imprensa e 250 jornalistas que atuam na França, incluindo os mais
importantes jornais impressos, a exemplo do Le Monde, Les Echos e Agence
France-Presse, foi criado no dia 1 de Março de 2017, uma ferramenta para
combater as notícias falsas no país, às vésperas das eleições presidenciais – O
site CrossCheck.
Segundo Andrei Netto,
correspondente internacional em Paris do jornal O Estado de São Paulo, a plataforma
tem participação de grupos internacionais como BBC Considerações
finais
Sem presunção ou
previsibilidade a respeito da funcionalidade plena do CrossCheck, faltando
poucos dias para o segundo turno das eleições presidenciais francesas, a
análise em questão preocupou-se primeiro, em demonstrar o esforço que o jornal
tradicional está fazendo para sobreviver comercialmente, quando números de
pesquisas em todo o mundo, apesar de apontarem a permanência da confiança e da
credibilidade, não anunciam o retorno do lucro em suas receitas.
A análise
conclui nesse primeiro momento, que a ideia de revitalização do jornal vai além
da modernização das redações, da total migração para as plataformas digitais,
do apoio a iniciativas inéditas como o CrossCheck, da popularização e
adesão a iniciativas não tão inéditas como o Fact-Cheking, ou do
financiamento de campanhas publicitárias. O jornal vive, ao estabelecer-se
equilibrado, criterioso. Vive, ao atrair para a redação a responsabilidade do
problema, ainda que não lhe pertença, e oferecendo ao público, um fomento
apurado as suas opiniões, sobre tudo que altera a ordem social, como o fenômeno fake
news.
”O primeiro fator é o da credibilidade outorgada ao papel e não,
exclusivamente, ao jornal. Os escritos, desde que desenvolvidos, foram uma
maneira de resguardar informações relevantes das sociedades que deles se
utilizaram. Com a prensa de Gutemberg, em meados do século XV, a
reprodutibilidade se alavancou, permitindo o aumento da alfabetização e, a
partir disto, criou-se um símbolo que se transformou na fonte do conhecimento:
o livro. Deste ponto em diante, o papel impresso se tornou a chave da sabedoria
e, consequentemente, a notícia impressa foi postulada como a fonte do saber da
vida cotidiana”.
Contudo, além disso, o segundo fator
determinante é o da bolha informacional, isto é, fala-se de um fenômeno onde o
sujeito consome aquilo que converge com sua própria concepção de mundo. De
fato, não é algo recente, mas que foi intensificado com o poderio proporcionado
pela internet, principalmente, pelas redes sociais. Outros fatores, como o
fechamento algorítmico (sistema de programação das mídias sociais) e a internet
como espaço para disseminação de opiniões, são derivados deste fenômeno maior.
Mas, uma vez que há um acirramento de
consumo, o leitor se sente mais vulnerável a trombar com informações de origem
incerta e que estão mais propensas a carregar opiniões embutidas.
A partir daí, ele recorre ao jornal
impresso como sua fonte mais segura. Contudo, a avaliação - na maioria das
vezes - não é feita com base em princípios críticos, leva-se em conta a própria
credibilidade do papel. A bolha informacional culmina para que haja uma baixa
confiança nas informações que surgem no interior dos blogs e sites menores
(menos de 30% dos entrevistados da PBM, confiam sempre ou muitas vezes nestas
fontes) o que explica um público que se volta para os portais das grandes
mídias e seus respectivos impressos.
AUTOR(A): Priscila
Costa Dourado
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